- Ano: 2013
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Fotografias:Marcos Altgelt
Descrição enviada pela equipe de projeto. O terreno localiza-se num vale conformado pelos morros que dão nome à ilha. No centro da mesma, onde o turismo vertiginoso não chega, a selva aflora e convida que seja habitada de um modo distinto. Esse contexto estabelece premissas e registra, em sua relação com o programa pretendido, uma série de oportunidades
Pode um albergue funcionar como tal e, por sua vez, propor um marco pedagógico? Quais seriam as formas de simbiose de programa, terreno, turismo, conjuntura social e econômica?
O projeto busca explorar esse enquadramento atingindo um baixo impacto em termos ambientais. Nessa direção, a primeira revisão tem a ver com determinar a paleta de elementos mínimos e indispensáveis para habitar o local, do que se segue, por condições climáticas e pretensões do próprio projeto, a possibilidade de prescindir de fechamentos estanques, portas de acesso e, inclusive, hierarquias programáticas.
Como estratégia territorial desenvolvem-se dois tipos de módulos espaciais de dimensões distintas, mas com um mesmo critério construtivo. A disposição das partes responde à detecção das clareiras naturais da floresta. O módulo de dimensões mínimas, de 3,20 m x 3,20 m, responde aos programas de menores demandas de áreas, como quartos privados, sanitários e serviços gerais. Os de maior envergadura, de 6,40 m x 6,40 m, abrigam usos comuns: refeitório, salão de usos múltiplos e albergue. A relação entre partes estará determinada pela experiência do usuário sobre o meio natural, evitando acondicionar de modo algum as linhas de conexão entre os nós.
Se medirmos a pegada de carbono de uma obra, um fator determinante na quantidade final é a procedência dos materiais e os processos de construção dos mesmos. Para diminuir esse impacto a quase zero, os módulos foram projetados para serem construídos majoritariamente em bambu Guadua. Sendo que uma das maiores plantações dessa espécie na América Latina fica a poucos quilômetros da ilha, essa decisão proporcionou uma oportunidade adicional. A construção com materiais desse tipo, surpreendentemente, não é comum na ilha, simplesmente porque a mão de obra não está habituada de fazê-la. Do mesmo modo, a utilização de tetos verdes e sistemas de gestão de energias com técnicas simples e baratas não são de conhecimento comum. Esses conhecimentos poderiam representar uma opção altamente econômica e eficaz de construção de habitações para os habitantes locais.
Esse marco descrito nos levou a desenvolver um "projeto de execução do projeto". Uma implantação em etapas na qual foram engajados especialistas comandando equipes de moradores locais e a realização de oficinas de capacitação para a construção de biodigestores, sistemas de fitorremediação e aquecimento solar térmico. Somados a um plano de coleta de óleos de cozinha para seu posterior tratamento no terreno, produção de glicerina e biocombustível; e um circuito sólido de produção e consumo de alimentos representaram para toda a ilha um teste de caso em termos de reformulação das formas de intercâmbio econômico, ambiental e educativo.